Diário aberto 20 de julho

E o Hipódromo vai fechar.

Alguns se importam, quase ninguém liga.

Se algo estava aqui antes de eu existir, presumiria que fosse existir para sempre, pois sempre esteve. (se antes de mim já havia mundo, não posso deixar de assumir que tudo que ali estava era o sempre).

Antes de mim é a história da humanidade e da natureza; eu sou o ponto acontecido e observador próximo (tão interno que salto pra fora e volto). Depois de mim a história deve continuar. O sempre me fagocita.

Faço parte (de um todo) portanto não parto.

De alguma forma, nós achamos que o que vamos construir ou contribuir nesta curta passagem será exposto para o ambiente no qual criamos tal desejo de modificar. E notamos, após anos de preparo e percursos erráticos que o ambiente foi se modificando, coisas concretas ao redor da antiga casa já não existem mais, ou mesmo a própria casa (da infância).

O Hipódromo vai fechar.

Não há luto.

Não há personalismos nem institucionalismo. Era o hipódromo.

Chopp aguado e filé com queijo

Inúmeras idas ao banheiro para não mijar

Surpreendentes encontros de almas desocupadas no Up.

Músicas nostálgicas, bebida ruim, boas lembranças até hoje.

A Gávea não tem mais baixo, nem BG.

Quem se importa?

Quem não ia lá há 10 anos.

O destino do Rio são as fotografias e músicas antigas

Calcanhoto e Marina Lima

É preciso destruir para recriar. É chato pensar assim. Mas cada célula de nosso corpo faz isso.

Ficar velho é entender isso com perspectiva.

Viver para crer

(o contrário não é óbvio)

A gávea não é mais a gávea, o leblon não é mais o leblon. Para quem eu queria mostrar o livro que escrevi, a fortuna que acumulei, os lugares que visitei? Se mesmo as crianças que me incentivaram por meio de comparação também já não são mais crianças, são pais de crianças, não há mais nada nem ninguém para mostrar meus feitos, só há este troço contínuo e lento (nem sempre) que é a degradação e renascimento das coisas.

O hipódromo vai fechar. Sinto um desamparo no ar. De uma geração, talvez duas, não mais. O novo não se importa, nasceu agora, não conhece o antes, não tem noção do sempre.

Todos em algum momento se sentem desamparados. É um sentimento que vem bem cedo quando somos privados do mamar e depois se repete em diversos momentos da vida. Qual é o desamparo que me faz ser como você? Não importa qual mas sim que é aí que nos conectamos. Talvez antes do desamparo, o que nos une seja o desespero. A própria esperança, sendo uma ilusão quente e gostosa, nos coloca em situações de desespero. Ficamos afetados por algo desconhecido, algo que não se sabe no que vai dar. Destemperados no meio de um percurso que não é só meu, é nosso, não é de ninguém. Não rejeitemos esse desamparo, entenda-o como nosso maior vínculo e me abrace na próxima vez que formos ao Baixo.

Publicado por cristiano benitez

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