Pe(r)de Vida
– Inspirado inconsciente, ignorante e inconsequentemente por “Uma arte” de Elisabeth Bishop.
Eu perdi meu celular em Amsterdam
Perdi outro no carnaval
Perdi um cordão prum pivete
Perdi as chaves
E também um canivete
Perdi um botão
Perdi minha camiseta favorita
Perdi o nascer do sol
Tantas vezes, nem me diga
Uma vez perdi o voo para o Rio
E nunca mais me atrasei
Já perdi a hora da escola
A hora do trabalho eu nem sei
Perdi 37 meias
E nenhuma do mesmo par
Já perdi manhãs de ressaca
Noites de sono
E meu chinelo para o mar
Perdi o fio da meada uma vez
Perdi a chance de um romance
Perdi um talento
Também perdi um alento
Já perdi um jeito
E alguns trejeitos
Já perdi a sorte
Já perdi a paciência
E acho que perdi
algumas vezes a consciência
Já perdi a memória
Perdi um jogo de futebol
Perdi a namorada perfeita
Uma onda tubular pra direita e o peixe no anzol
Eu pedi o melhor brinquedo pros meus pais
Pedi um carinho e um cafuné e nada mais
Já pedi um número de telefone
Praquela potencial paixão sem nome
Pedi confiança
Pedi uma viagem
Pedi dinheiro
Pedi desculpas
Eu perdi minha mãe
A mãe de carne osso
Mas não perdi aquela lembrança
De quando era criança
Ainda não perdi a vida inteira
Perder é corte
E nos leva a sofrer
Perder sempre foi morte
Dominá-la é poder
Perca-se
Despenque-se
Desprenda-se
Desapegue-se
Se solta
Me perdi de ternura na leitura, pedi para que continue a escrever com ou sem meias…
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hahaha que bom 🙂
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